Biblioteca do Observatório Céu Austral

 

 

Bayer e a nomenclatura das estrelas

por Regina Auxiliadora Atulim

 

O ano de 2003 marcou o aniversário de 400 anos da obra do astrônomo alemão Johann Bayer, URANOMETRIA, publicado em 1603 na cidade Augsburg, Bavária, região da Alemanha.

 

Johann Bayr (ortografia original) nasceu em Rain, Bavária no ano de 1572. Embora advogado, adotou como hobby a astronomia observacional. Em 1598 chegou às suas mãos um catálogo estelar do famoso astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601). Esse catálogo continha a posição de mais de mil estrelas com uma precisão várias vezes maior que a das observações realizadas por Ptolomeu e por Hiparco 1.400 anos antes. Desse trabalho surgiu a idéia de seu atlas estelar.

 

O atlas, composto por 51 folhas, foi impresso com as 48 constelações do Almagesto de Ptolomeu (12 zodiacais, 21 ao norte e 15 ao sul da eclíptica, uma folha com as novas constelações austrais* e duas folhas com as regiões dos pólos norte e sul da eclíptica. A obra conta com 1.706 estrelas de magnitude 1 a 6, de acordo com a escala de Hiparco, 325 estrelas que não pertenciam a nenhuma constelação, além de centenas de outras estrelas de fraco brilho que não constavam nas obras de Ptolomeu e de Tycho.

 

Sua obra ganhou tamanha aceitação popular que foi reimpressa várias vezes a partir das placas de cobre originais gravadas por um dos maiores entalhadores alemães: Alexander Mair. Seu trabalho conferiu à obra de Bayer uma qualidade e precisão de detalhes jamais encontradas em trabalhos semelhantes anteriores.

 

A maior contribuição da Uranometria de Bayer, entretanto, foi o sistema inovador que ele idealizou para designar as estrelas, utilizado até hoje no mundo inteiro. Bayer decidiu nomear as estrelas mais brilhantes de cada constelação pela primeira letra minúscula do alfabeto grego – alpha seguida do genitivo** da constelação em latim. Assim, por exemplo, a estrela mais brilhante da constelação de Scorpius*** recebeu a designação alpha Scorpii (genitivo de Scorpius, significando "da constelação de Scorpius"). A segunda estrela em brilho recebeu a designação da segunda letra do alfabeto grego – beta seguida do genitivo da constelação e assim por diante. Esgotado o alfabeto grego, Bayer utilizou letras minúsculas e maiúsculas do alfabeto latino (a, b, c,... e A, B, C,...Q, não utilizando as letras j, minúscula e maiúscula).

 

Embora não existam registros de que Bayer tenha adotado propositadamente o critério de nomear as estrelas de uma constelação pela ordem inversa de brilho, ele é válido para a maioria delas. Algumas, entretanto, não se encaixam nesse sistema, como é o caso da estrela mais brilhante de Sagittarius, designada por epsilon, enquanto que a alpha é uma estrela de fraco brilho. Em algumas constelações, quando duas estrelas apresentavam quase o mesmo brilho, Bayer, aparentemente, nomeou primeiro a que se localizava mais ao norte, como parece ser o caso de Castor (alpha Geminorum) e Pollux (beta Geminorum),  e também de Betelgeuse (Alpha Orionis) e Rigel (Beta Orionis).

 

Algumas estrelas das constelações austrais de seu atlas Bayer deixou sem designação, mas deu os nomes de Nubecula Major e de Nubecula Minor às Nuvens de Magalhães, próximas às figuras de Dorado e Hydrus, respectivamente.

 

 Advogado de sucesso, foi membro do Conselho de Augsburg de 1612 a 1625, quando faleceu, em 7 de março. Bayer ainda é um herói em sua cidade natal, tendo emprestado seu nome a uma escola e a uma rua. O meio astronômico também reconheceu suas contribuições e, em sua homenagem, uma cratera com 47 km de diâmetro na Lua recebeu seu nome.

 

(*) constelações austrais concebidas em 1595 pelo uranógrafo holandês Pieter Dirckszoon Keyzer (Apus, Chamæleon, Dorado, Grus, Hydrus, Indus, Musca, Pavo, Phœnix, Triangulum Australe, Tucana e Volans)

(**) os genitivos são expressões semelhantes aos pronomes possessivos da língua portuguesa; indicam posse.

(***) por determinação da I.A.U. (União Astronômica Internacional), os nomes das constelações devem ser mundialmente utilizados em latim.

 

 

Frontispício da edição de 1603 da  "Uranometria" de Johann Bayer

 

 

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