Biblioteca do Observatório Céu Austral

 

Mercúrio, o mensageiro dos deuses

por Regina Auxiliadora Atulim

 

Conhecido desde a Antigüidade, Mercúrio é o planeta mais próximo ao Sol: sua distância média é de apenas 58 milhões de quilômetros. Com uma velocidade orbital média de de 47,8 km/s, emprega cerca de 88 dias para completar uma translação.

Mercúrio é também um dos menores planetas do Sistema Solar e não possui satélites naturais. É um astro de difícil observação: por ocupar uma órbita interna à terrestre, é invisível da Terra quando passa pela fase de cheia. Quando visível, seu brilho é muito reduzido porque exibe fase de crescente ou de minguante, além de estar sempre mergulhado nos clarões dos crepúsculos matutino ou vespertino.

Até meados do século XX, acreditava-se que ele mantinha o mesmo hemisfério sempre voltado para o Sol por ser dotado de rotação síncrona (período e sentido da rotação iguais aos da translação). Mas, na década de 1960, os astrônomos determinaram o período de rotação em 58,65 dias, 2/3 do período de translação. Como resultado da combinação dos dois movimentos, um hipotético observador na superfície de Mercúrio veria o Sol nascer a cada 176 dias, pois o planeta completa duas voltas em torno do Sol enquanto realiza três rotações em torno de si mesmo.

 

Atmosfera

 

A gravidade de Mercúrio é muito pequena para que ele seja capaz de reter uma camada gasosa ao seu redor, mas, em 1974, a sonda Mariner 10, detectou a presença de uma tênue mistura de gases. Desde então já foram identificados oxigênio, sódio, hidrogênio, hélio, potássio, silício, magnésio e cálcio. Sua origem ainda é desconhecida, mas os pesquisadores acreditam que algumas das substâncias sejam arrancadas da superfície por processos de vaporização durante impactos, volatilização de micrometeoritos, decaimento radioativo de substâncias da crosta, etc.

Por ser muitíssimo rarefeita, não há alternância entre períodos claros e escuros como ocorre na Terra: durante o "dia" é possível ver as estrelas e o Sol acima do horizonte, pois a luz solar sofre pouca difusão em uma camada de ar tão tênue.

A baixa densidade da atmosfera (juntamente com a ausência de massas de água) provoca uma grande amplitude térmica, pois a energia do Sol rapidamente absorvida pela superfície durante o "dia" é perdida também rapidamente durante a noite. Quando o Sol está acima do horizonte, a temperatura atinge 350°C e, à noite, cai para -170°C.

 

Estrutura interna

 

A matéria no interior de Mercúrio parece ter se distribuído de modo semelhante ao que ocorreu no interior da Terra. Sua densidade média, entretanto, é maior que a terrestre se forem descontados os efeitos da pressão das camadas externas sobre as internas. Isso significa que Mercúrio contém, proporcionalmente, uma quantidade maior de material metálico (mais denso que o rochoso) que a Terra.

 De acordo com o modelo, Mercúrio tem um núcleo formado por substâncias metálicas com cerca de 1.800 km de raio e 40% do volume do planeta.

Em torno dele, há uma região com aproximadamente 600 km de espessura formada por rochas silicáticas, chamada manto, recoberta por uma crosta formada principalmente por material rochoso com uma espessura que varia de 100 a 300 km.

 

Campo magnético

 

Descoberto pela Mariner 10, possui cerca de 1% da intensidade do campo magnético  terrestre e seu eixo apresenta uma inclinação de apenas 7° em relação ao eixo de rotação.

Apesar do lento movimento de rotação do planeta, sua origem parece ser a mesma do campo terrestre: se não todo, pelo menos uma parte de seu grande núcleo de ferro e níquel deve permanecer no estado líquido devido às intensas forças de maré provocadas pelo Sol. A rotação promove o surgimento de correntes elétricas no material condutor que, por sua vez, gera o campo magnético.

 

Superfície

 

As imagens enviadas pela Mariner 10 revelaram uma crosta muito parecida com a da Lua. As estruturas mais abundantes são, sem dúvida, as crateras de impacto, que apresentam diâmetros que variam desde algumas dezenas de metros a centenas de quilômetros. Geralmente, as com diâmetros inferiores a 20 km não apresentam picos centrais, pois os impactos dos meteoróides com a superfície não geram temperaturas suficientes para a fusão da crosta. Suas bordas são bem definidas e as paredes, lisas.

As crateras de dimensões intermediárias podem exibir um ou mais picos centrais e as paredes começam a apresentar estruturas provenientes do assentamento de material expelido durante os impactos.

Nas maiores crateras, entretanto, os picos centrais deixam de existir para dar lugar a cadeias de montanhas circulares que podem se estender até as bordas. Sua origem é a mesma dos picos.

Uma das estruturas de relevo mais proeminentes é a Caloris Planitia. Ela é uma bacia de impacto com cerca de 1.300 km de diâmetro e a parte interna parece estar recoberta de material proveniente do interior do planeta que emergiu através de fissuras na crosta. Em sua borda estão os Caloris Montes, uma cadeia de montanhas com altitudes da ordem de 3.000 m.

Também foram identificados dois tipos de terrenos planos na superfície. O primeiro são planícies existentes entre as crateras, que parecem ser as regiões mais antigas da crosta do planeta. O outro, mais liso, localiza-se na parte externa dos Caloris Montes e caracteriza-se por áreas de vários tamanhos, muito parecidas com os mares lunares. Estas, entretanto, apresentam o mesmo poder de reflexão da luz solar que as planícies entre as crateras, o que não ocorre na superfície lunar.  Tudo indica que sua origem seja decorrente de atividade vulcânica.

Além de crateras e planícies, a superfície exibe inúmeras dobras que cruzam as planícies. Elas parecem ter se originado durante a contração sofrida pela crosta devido ao resfriamento do planeta.

Algumas deformações mais recentes, entretanto, podem ser resultantes do movimento da crosta por causa dos efeitos de maré do Sol sobre o planeta que são dezenas de vezes mais intensos que os sofrido pela Terra.

O conhecimento detalhado dessas estruturas permite estabelecer uma trajetória evolutiva da superfície do planeta, com pelo menos cinco grandes fases.

A primeira coincide com a época da condensação do planeta, quando atingiu sua forma e dimensões atuais e o surgimento das dobras.

A segunda fase caracteriza-se por um intenso bombardeio meteorítico que originou os terrenos densamente craterizados.

A terceira etapa evolutiva parece ter sido determinada pela formação da Caloris Planitia e de todas as estruturas ligadas a ela como as cadeias de montanhas, vales e colinas.

Após sua formação, inicia-se uma quarta fase com o surgimento de terrenos planos formados por material expulso do interior por meio de derramamento vulcânico.

A última etapa caracteriza-se pela ausência de atividade interior e a formação de crateras raiadas, decorrentes de impactos esporádicos. A origem dos raios é a vitrificação do material da superfície após o impacto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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